outubro 28, 2010

volat irrevocabile tempus

Atrás da forma globalizada do real, de que estão ausentes contradições, diferenças e demais rastros do concreto, há talvez uma parte de indiferença. Noutra chave mais óbvia, é verossímil dizer que a designação vazia e abrangente do mundo a ser mudado recolhe algo do modo burocrático de operar. Unindo ambição e indefinição totais, o "tudo" funde as insuficiências do messianismo e a suficiência sem promessas da burocracia. (...) Como não temos parâmetros, o que fica é a gesticulação abstrata do desejo de transformar, embalada em tipografia atraente [em referência ao poema Póstudo, de Augusto de Campos, publicado no Folhetim de 27 de jan. de 1985]. A alteração vale para os outros contextos temáticos que assinalamos: revolução, luta literária, programa modernista, passado pessoal significativo, todos estão presentes através de um esquema do fazer transformista em geral - projeto, transformação, transformação do transformador - que na falta de seu objeto se reduz a imagem, encenação, ideologia de si mesmo. Desaparecem seu preço, o seu prêmio e seu sentido, e permanece o seu perfil, um prestígio antigo entre outros, quase uma saudade, pronto para ser matéria pop no mercado cultural. (Roberto Schwarz, Que horas são? - ensaios, página 66, 2ª edição).
El tiempo dize verdades, Pues nos dize en los del año. Que en nuestra vida es engaño Esperar eternidades, Buela ligero, y ligera Buela con el nuestra vida, En sus tiempos repartida Del mismo modo y manera; Primauera es la niñez, El Estio mocedad, Otoño virilidad Y el Inuierno la vejez; Nadie pues le finja eterno, Y aduierta, que suele hazer La muerte consu poder
De la Primauera Inuierno. (Otto van Veen, Q. Horatii Flacci Emblemata, 1612)